quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Grey Gardens 1975

No ano de 1973, um escândalo ocupou as manchetes dos jornais americanos. Autoridades locais de East Hampton, uma área residencial nobre no estado de Nova Iorque, tentaram expulsar mãe e filha de uma mansão decadente do balneário de luxo, alegando falta de condições sanitárias. Isso tudo pode acontecer por inúmeras razões, mas, neste caso, mãe e filha se tratavam das ex-socialites Edith Bouvier Beale e sua filha Edie, outrora pertencentes ao crème de la crème da sociedade novaiorquina. Não apenas este fato inflamava as notícias nos jornais, mas, sobretudo, por elas serem, respectivamente, tia e prima de Jacqueline Kennedy Onassis.

A vida intrigante e perturbadoramente interessante de Edith Bouvier Beale e sua filha Edie foi inicialmente tema do polêmico documentário dos irmãos Albert e David Maysles, "Grey Gardens," lançado em 1975. Inovadores da técnica do "cinema direto," os irmãos aportaram na mansão de East Hampton com uma camera e um microfone nas mãos e algumas ideias na cabeça. O resultado produziu um compêndio de excentricidades, protagonizado por duas mulheres, cujos diálogos deixariam perplexos Tenesse Williams e Euguene O'Neil. Mas, Grey Gardens mostra muito mais do que isso. O documentário foi feito dois anos depois da reforma da casa, realizada por Jacqueline K. Onassis, mas ainda é possível sentir a presença do abandono, do descaso, do autoflagelo humano e da imundície na qual Big Edie e Little Edie, como eram conhecidas, mergulharam nos últimos 20 anos de convivência na mansão.

O documentário é perturbador na medida em que gera reflexões inevitáveis, pois registra uma natureza humana não muito comum, totalmente incoerente e ilógica. Como duas mulheres outrora frequentadoras da alta sociedade nova iorquina puderam cair num isolamento tão intenso e num auto-abandono tão profundo ? Como uma mulher linda e rica na juventude não conseguiu um casamento, se este era um valor almejado de Little Edie ? Em linha geral fica difícil entender, mas, vendo o documentário conseguimos algumas dicas. A relação mãe e filha sofre da síndrome da ectopia afetiva e retroalimenta uma interprisão grupocármica difícil de anistiar. Ambas têm fortes tendências autofágicas, tanto pelo autoesquecimento quanto pelo autoflagelo em que as duas vivem submersas e dependentes. Há uma mistura de lucidez temporária e loucura quase permanente nas cenas em que aparecem entulhadas sobre as camas, com outras mil traquitandas, em meio à desordem do ambiente, que poderia muito bem ilustrar a desordem interior da vida daquelas duas ex-personagens da aristocracia americana dos anos 30 e 40.

Do lado de fora da mansão, o abandono não é menos pronunciado. Composta por grandes jardins e um velho casarão, a mansão estava tomada por lixo, detritos, gatos pestilentos, guaxinis e pulgas. Isoladas de tudo e de quase todos, eram incapazes de sustentar as necessidades de manutenção do casarão e deixavam a velha mansão ruir à sua volta, enquanto viviam em condições precárias. Os dois lados da moeda da vida dessas duas personagens, no sentido mais amplo da palavra, convivem no mesmo cômodo: ao mesmo tempo em que vemos a deteriorização generalizada em que as duas se meteram, testemunhamos um esforço consciente de recriar uma certa aura de glamour sobre si mesmas. Essa contraposição entre esse senso de estilo anacrônico e o evidente esquecimento em que se tornou Grey Gardens gera o verdadeiro drama do filme e torna chocante a situação das Bouvier.

Posteriormente a história deu origem a uma peça de teatro, um musical e a um filme, este último protagonizado pelas atrizes Drew Barrymore e Jessica Lange em 2009.


INFORMAÇÃO DO FILME
Nome Original: Grey Gardens 
Direção: Ellen Hovde, Albert Maysles, 
David Maysles, Muffie Meyer 
Gênero: Documentário 
Áudio: Inglês
Legenda: Português 
Qualidade: DVDrip
Tamanho: 1,36GB
Formato: AVI
Qualidade do Video: 10
Qualidade do Áudio: 10





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